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Arquitetos: Miguel Croce
- Área: 35 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Manuela Lourenço
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Fabricantes: Comercial Vulcan Hobart, Couto Inox, Grupo Ceral
Descrição enviada pela equipe de projeto. Pouso Alegre é uma cidade do sul de Minas Gerais que cresceu rapidamente nas últimas décadas, tornando-se centro de sua microrregião. Em seu tecido urbano convivem em contraste dois momentos culturais: uma cidade histórica com seu ritmo tranquilo do interior de ruas apertadas, como memória, e outra contemporânea agitada dos novos comércios, shopping centers e edifícios, que aponta o desejo de um futuro urbano.
A OTB [O Tardo Burguer, “o tal do burguer”, trocadilho em sotaque local] é uma marca de refeições por delivery criada durante a pandemia. Inicialmente, em um espaço provisório, logo surgiu o problema com a distância até os bairros mais atendidos. Portanto, o primeiro motivo do projeto foi principalmente geográfico: era preciso estar no centro. Mais ainda, na situação incerta da pandemia havia uma oferta incomum de imóveis disponíveis e um dos locais mais tradicionais da cidade, o “Bar Pé de Porco” estava apto.
A pandemia moldou também o programa, já que não foi necessário criar um “salão” de refeições, até porque a aglomeração de pessoas ainda era contraindicado. Apenas um balcão e uma cozinha bastaria, mas o local, pela história e pela centralidade, demandava aspirações urbanas mais nobres e foi portanto uma chance de ensaiar espacialmente uma nova hipótese de tipologia comercial.
A pergunta que se colocou como projeto foi: como instalar uma “cloud kitchen” no centro histórico sem que se torne um mero balcão escuro e suspeito? Em outras palavras: Qual a imagem possível de um empreendimento contemporâneo dentro de um cenário tradicional?
A cozinha ocupa aproximadamente 30m², e fica em frente à uma pequena praça que abriga uma árvore de grande porte onde se encontram 5 ruas, formando um entrelaçamento urbano. Intensamente movimentada tanto por pedestres e automóveis, faz seus 8m de fachada funcionarem como um suporte urbano grande de visibilidade.
A divisão dos espaços é simples, metade é ocupada pela cozinha e metade pela administração, estoque e apoio. Estes espaços, escondidos no fundo dos restaurantes como de costume, sofreram uma inversão e foram dispostos na rua. Constituem não só uma representação da marca, mas colocando a própria operação de produção como representação da marca. Ou seja, não oferecendo uma representação de si, mas apresentando-se a si mesmo. Espaços entranhas, revelados como o real da cidade.
Na cozinha foi proposto um sistema metálico para ser tanto um dispositivo de fechamento quanto uma proteção do sol e da chuva. Atrás dele, o vidro revela e protege o interior enquanto permite acompanhar o preparo do alimento a partir da calçada. O revestimento interno aparece fora, enquanto a coifa de exaustão ao invés de desaparecer pelos fundos, irrompe a rua e escala o edifício até a cobertura.
Do outro lado, o balcão é uma estrutura independente, uma cabine, um volume que organiza o fluxo do espaço. A partir dele é possível observar tanto o movimento da rua quanto da cozinha, tornando a comunicação rápida. Suas paredes curvas tem dupla função de ampliar a área de atendimento quanto reafirmar sua presença como objeto.